Pré-publicação do Editorial da Revista do Agricultor, Dezembro 2020


Sendo este o último editorial de 2020 procurei encontrar uma palavra que de forma directa tudo resumisse face ao inesperado ano que vivemos. Surgiu-me de imediato a palavra DESGRAÇA. Como humano que sou, sou frágil, e por isso foi a palavra que me veio à cabeça antes mesmo de qualquer reflexão. Mas, felizmente, não somos “apenas” humanos, somos mais que isso e, por estarmos em Dezembro, o Natal invadiu-me o espírito surgindo-me na mente uma outra palavra, ESPERANÇA.

É muito mais importante debruçarmo-nos sobre a Esperança do que sobre a Desgraça. 

É na Esperança que está o futuro, é no nascimento que está o início da vida e é isso mesmo que o Natal nos traz, o renascimento e ESPERANÇA.

A nossa missão passa assim a ser a de encontrarmos Força. Força para irmos à luta. Lutar contra a doença e lutar contra as adversidades que, quer por via das consequências da pandemia, quer por via das más decisões e más políticas que quase diariamente nos assolam, nos impelem a não baixarmos os braços e continuarmos o nosso caminho.

Lutar contra a demagogia da retirada dos animais para o ministério do ambiente; lutar contra a utopia de separar as florestas da agricultura; lutar contra a ideia feita de que é possível progredir no combate às alterações climáticas diminuindo a actividade agrícola; lutar contra os que acusam os agricultores de esbanjarem recursos, como a água ou o solo; lutar contra o ataque dirigido aos modos de produção modernos; lutar contra a estupidez de se criar uma taxa de carbono sobre a produção animal ou o consumo de carne; lutar contra a ignorância dos que “avisam” que as barragens vão deixar de encher; lutar contra a ilusão de haver alimentos sem agricultores …. E armas para tanta luta?

A resiliência e a consciência tranquila são as mais fortes, mas não são suficientes. É necessária a acção de todos, de forma individual e colectiva, pela força das nossas Associações.  O conhecimento, a objectividade e a vontade de acompanhar a mudança são também ferramentas fundamentais face aos desafios que se nos apresentam.

Entretanto aproxima-se o período crítico que originará o “novo” desenho de uma renovada Política Agrícola Comum, assente numa ambiciosa meta de “descongestionamento” ambiental, corporizado no Pacto Ecológico Europeu e na desejada neutralidade carbónica em 2050. Este desafio tem de ser encarado como uma (muitas) oportunidade(s), nunca como uma ameaça.

 Uma vez mais será durante a presidência portuguesa, no primeiro semestre de 2021, que as negociações finais da PAC poderão chegar a bom porto, desta vez com a possibilidade dos países adequarem as políticas às suas especificidades. Esperemos que a equipa do Ministério da Agricultura esteja à altura dessa responsabilidade, podendo contar com os agricultores e suas organizações na busca das melhores soluções e instrumentos.

Um Santo Natal e votos de um Novo Ano imbuído de vontade e Esperança.


Eduardo Oliveira e Sousa

Presidente da CAP


Pré-publicação do Editorial Revista do Agricultor nº271, Novembro/Dezembro 2020