Lisboa, 22 abril de 2020 – Seis organizações não governamentais contestaram ontem, através de um comunicado conjunto, a decisão do Governo de flexibilizar medidas na Agricultura devido à COVID-19. 

Em concreto, as organizações contestaram a possibilidade de os produtores poderem agora praticar o pastoreio nas áreas de pousio e não serem obrigados à diversificação de culturas nas explorações cerealíferas.

Estamos, portanto, a falar de duas medidas muito específicas, entre todas aquelas que os agricultores continuam a cumprir para benefício do clima e do ambiente, que visam, como salientou o Ministério da Agricultura, “assegurar a alimentação animal na pecuária, bem como contribuir para atenuar as eventuais dificuldades de aprovisionamento de cereais”.

Trata-se de uma postura totalmente incoerente por parte destas organizações, que atacaram desde sempre a aplicação destas práticas benéficas para o clima e para ambiente, impostas pela Política Agrícola Comum (PAC), por considerarem que tinham um benefício nulo para o ambiente e, agora, saem em defesa acérrima das mesmas, como se fossem o único garante do fornecimento de benefícios ambientais por parte da atividade agrícola.

Ora, a CAP – Confederação dos Agricultores de Portugal manifesta o seu apoio inequívoco a estas medidas específicas tomadas pelo Ministério da Agricultura, sublinhando a sua importância no contexto da valorização ambiental da agricultura, e repudia na íntegra o referido comunicado conjunto que, além de revelar profundo desconhecimento técnico, tece considerações de natureza ideológica sobre a pandemia que nos aflige a todos, o que é de censurar. Um comunicado cujo conteúdo é tecnicamente errado, ideologicamente orientado, sem evidências que o sustentem e que, por isso, merece ser publicamente condenado e corrigido. 



A MEDIDA TOMADA PELO MINISTÉRIO DA AGRICULTURA É UMA BOA MEDIDA PARA O PAÍS

Portugal, como é sabido, não é autossuficiente em cereais e terá sempre que depender de importações para satisfazer as suas necessidades. Preferem os ambientalistas que importemos mais cereais, que vêm de países distantes (com tudo o que isso significa em termos de emissões) quando existem, no nosso país, áreas adequadas para estas culturas e que nos permitirão aumentar um pouco mais a sua produção internamente, controlando a qualidade e com regras ambientais claras e fiscalizáveis? 

Também no caso da permissão do pastoreio das áreas de pousio se trata de uma medida benéfica. Então não é melhor os animais alimentarem-se desta forma, do que aumentar-se o consumo de rações, quando muitos dos seus componentes são, igualmente, importados? 

Finalmente, importa esclarecer que esta medida se aplica apenas às explorações com uma área agrícola superior a 15 hectares, mantendo-se inalterados todas as demais regras ambientais em vigor. 

Esta medida, além de economicamente racional e valorativa da produção nacional, é também uma medida com impacto ambiental positivo e com um impacto direto na redução das emissões. Menos cereais importados, menos soja importada. 

Esse comunicado conjunto resulta, portanto, de um enorme equívoco e de uma leitura oportunista de uma medida, potencialmente virtuosa e positiva para o ambiente.



CAP APELA AO DIÁLOGO E AO BOM SENSO

Que bom seria que estas organizações aproveitassem o atual momento para fazerem valer as suas posições com bom senso, em vez de radicalismo. Com informação, e não desinformação. A descida abrupta de emissões de gases com efeito de estufa é uma evidência absoluta cientificamente comprovada. A Agricultura não parou durante esta pandemia, ao contrário de tantos outros setores de atividade. 

A agricultura sustenta o mais elevado dos valores: o da vida humana. Sem agricultura não há alimentos, sem alimentos não há vida.

A Agricultura é um setor com o qual os ambientalistas têm muito a aprender em matéria de boas práticas ecológicas e ambientais. O agricultor é o primeiro interessado na preservação do ambiente e na gestão adequada dos recursos na sua exploração agrícola. Reconhecendo, contudo, que há sempre espaço para melhorar práticas e conciliar o bem maior de produzir alimentos que sustentam a vida humana com outros valores que são importantes, como o ambiente, o clima e a biodiversidade, a CAP entende que este é o momento do diálogo, e não da crispação. 

Para isso, apela a estas organizações para que troquem a ideologia, pelo bom-senso e o radicalismo pela boa vontade. 

Se as organizações não governamentais ligadas ao ambiente querem ser devidamente consideradas, devem começar por respeitar a mais elementar regra de quem tem acesso ao espaço público e mediático: falar verdade e não confundir as pessoas.